quinta-feira, 14 de maio de 2020

O hambúrguer de 30 reais

Eu, minha esposa e duas primas dela estávamos aqui em casa. Uma prima chamarei de Maria e outra de Joana. Era uma terça à noite. Ao longo do dia já havíamos conversado sobre diversas amenidades.

Começamos a falar sobre finanças. Iniciei contando sobre uma situação de endividamento que vivi, mas que consegui sair. Maria, apesar de visivelmente constrangida, falou que estava com umas dívidas. Sem que eu pedisse mais detalhes, seguiu adiante e disse que era um parcelamento do crédito rotativo em 36x. Joana falou "nossa! eu não sabia que o rotativo parcelava tanto. O que fiz há pouco tempo foi em 24x".  Me segurei para não rir de nervoso.

Perguntei qual a taxa do rotativo. Ambas disseram que nunca foram atrás. Perguntei porque não faziam um empréstimo com taxa de 3%a.m para quitar o rotativo. Responderam que "era complicado e que daria muito trabalho ir na agência resolver isso". Desisti.

Conversa vai, conversa vem e Joana confessou que além do rotativo em 24x, tinha o financiamento do carro e do apartamento. Agora as atenções se voltavam para ela. Antes que eu perguntasse, olhou o aplicativo do banco e viu que a taxa era 2,9%a.m. Para os padrões atuais, é uma taxa muito alta. Perguntei porque não fazia portabilidade para um banco com taxa mais vantajosa. Ela disse que o carro foi financiado no banco onde ela trabalha e que tirar de lá poderia "pegar mal". Deu dó, mas PUTZ!  Eu não sabia que ela trabalhava em um banco.

Ela contou que o banco trabalhava para clientes de alta renda. A função dela é prospectá-los. Por fim, me falou que tinha a certificação CPA-10 e já foi me explicando o que era.

Meu Deus... Como é que uma pessoa com a vida financeira ferrada atua prospectando clientes de alta renda para um banco? Aliás, como é que mesmo tendo todo o conhecimento dos produtos financeiros ainda se permite cair em tamanha cilada?

Encaminhei a conversa para um fim. Eu já estava com vergonha alheia. No final, ela convidou todos a pedirem um delivery. Abriu o ifood e achou a lanchonete que ela sempre pedia. Segundo Joana, o ifood estava dando R$5 de desconto. Assim, o hambúrguer que ela ia pedir saía por R$30,00. Caí pra trás.

Depois disso, passei a entender a vida dela de A a Z.

2 comentários:

  1. Tenho um amigo bancário na jornada Fire que relata exatamente isso: como há bancários lotados de dívida e sem a menor noção de finanças pessoais. É muito triste saber disse, especialmente porque são as mesmas pessoas que 90% da população confia seu dinheiro para "investir".

    Abraço

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  2. Pois é. O famoooso ditado casa de ferreiro e espeto de pau.

    Essa foi a primeira bancária que conheci que tocou nesse assunto, mas não duvido que seja só a ponta do iceberg.

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