A doação é um ato de caridade, de compaixão e de desprendimento. Em uma sociedade materialista como a nossa, decidir tirar algo de si para dar ao outro sem nada em troca é de uma virtude sem tamanho.
Podemos exercer a caridade destinando recursos para diversos entes. A quem devemos dar preferência? À família ou a instituições filantrópicas ou religiosas?
No ano passado, li o post "Doar sem gastar" do blog Aposente Cedo. Na época, fiz uma doação via imposto de renda e também me inspirei a exercer a caridade ao longo do ano. Inicialmente escolhi algumas instituições filantrópicas de causas que eu defendia: tratamento da depressão, resgate de animais, tratamento do câncer, hospital infantil e um asilo de idosos. Realizei doações regulares ao longo do ano.
Certo dia eu decidi olhar para a minha própria família e procurei por pessoas que estivessem passando necessidades. A família do meu pai tem uma certa condição econômica que os permite viver dignamente. Contudo, a família materna possui membros que sobrevivem com 1/4 de um salário mínimo e, por essa condição de vulnerabilidade econômica e social, recebem um auxílio do governo chamado benefício de prestação continuada. Todos eles vivem em uma cidade do sertão com menos de 10 mil habitantes.
Conversei com uma tia da capital que confio muito. Ela sempre está por dentro de tudo e não cai na sedução dos falsos dramas. Perguntei se havia alguém da nossa família passando necessidade. Ela disse que havia dois tios e uma prima enfrentando sérias dificuldades.
Uma das histórias que me contou, foi que uma prima ligou para ela pedindo ajuda para comprar um botijão de gás. Uma semana antes o marido dessa prima havia tentando suicidar-se. Ele perdeu o emprego e teve que vender a moto para poder comer, pagar aluguel, luz e água.
Outro tio teve a luz cortada porque não estava conseguindo pagar a conta de energia de 45 reais. Já outra tia parou de usar botijão de gás e voltou a cozinhar na lenha.
Eu me sensibilizei com a situação. Seria coerente se me mantivesse ajudando terceiros enquanto pessoas do meu sangue passam necessidades?
Reduzi a doação para uma instituição e assumi o pagamento da conta de luz do meu tio. Também estou me organizando para deixar um crédito em um mercadinho por X meses para que a minha prima possa comprar algumas coisas por lá. O mercadinho é do meu sogro (ajudo duas pessoas).
Se você se interessar em ajudar a sua família, escolha um familiar que você confie e peça informações a ele sobre que pessoas podem estar precisando de ajuda.
Sugiro que você não dê o dinheiro diretamente, mas assuma um gasto que não permita ao familiar usar o seu dinheiro para outras finalidades. Arque com despesas como conta de luz e água, aluguel, exames de saúde, supermercado, compra de um óculos, estudo, esporte, material escolar, vestuário (pode ser doação de roupas) apoio para deslocamentos necessários para a realização de exames de saúde, de provas ou de apresentações, etc. Você também pode arcar com uma parcela dos gastos, como pagar 50% do aluguel ou dar o exame oftalmológico enquanto que o parente arca com o valor dos óculos.
Deixe muito clara a duração desse auxílio (por X meses, Y anos ou W dias), a não ser que você queira mantê-lo por tempo indeterminado
Antes de doar para terceiros, faça o bem para sua família. Isso estreita os laços e aumenta a sua certeza de que sua doação foi bem empregada.